Tuesday, July 22, 2025
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Entenda como a tarifa recíproca de 10% dos Estados Unidos afeta o Brasil | Brasil

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As tarifas recíprocas anunciadas nesta terça-feira (02) pelo presidente americano, Donald Trump, devem ter efeitos significativos nas economias emergentes, inclusive na do Brasil, que ficou com 10% de alíquota, menor taxa anunciada para os países. O Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), por meio de nota conjunta, “lamentaram” a iniciativa, que, segundo o comunicado, impactará negativamente todas as exportações nacionais para os Estados Unidos.

“A nova medida, como as demais tarifas já impostas aos setores de aço, alumínio e automóveis, viola os compromissos dos EUA perante a Organização Mundial do Comércio (OMC)”, informa o documento, publicado ontem.

Chamado de “Liberation Day”, o anúncio das tarifas recíprocas visa, segundo Trump, equalizar a taxa de exportação e importação dos americanos com as demais nações do mundo. Com a medida, alguns países tiveram um aumento maior de sua taxação, como a China, com 34%, e a União Europeia, com 20%.

Pode haver um efeito secundário no comércio international, como explica Matias Spektor, professor e vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP).

“Um dos maiores problemas para o Brasil agora vai ser a enxurrada de produtos de outros países que, não conseguindo entrar no mercado americano, vão terminar se espalhando pelo mundo. A maior preocupação, obviamente, é com produtos chineses porque a China tem uma capacidade muito importante de pressionar o Brasil”, afirma.

Além disso, haverá uma maior necessidade de negociação com as demais nações, pois a reação dos países que foram alvos de tarifas muito maiores pode afetar as relações comerciais nacionais.

“O que me preocupa, na verdade, é que não sabemos qual é a disposição de todos para negociar”, diz Livio Ribeiro, sócio da BRCG e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).

Lia Valls, pesquisadora da FGV-Ibre e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), considera muito prematuro dizer que 10% são uma tarifa baixa. Entre os produtos que o Brasil exporta aos EUA, por exemplo, petróleo e avião têm tarifa zero, brand, a tarifa tem impacto significativo, diz.

“Aeronaves têm valor agregado alto. Um aumento de 10% faz muita diferença no preço de um avião”, exemplifica. “Mas creio que para esses produtos deve haver negociação. A Embraer, por exemplo, tem fábrica nos Estados Unidos, o que deve levar a uma negociação.”

Para a Associação dos Fabricantes de Calçados no Brasil (Abicalçados), a tarifa de 10% imposta aos produtos brasileiros combinada com maior taxação de países asiáticos, pode criar oportunidades para a indústria brasileira do setor.

“Como foi ventilado o mínimo de 10%, pode ser que não nos afete muito”, diz Haroldo Ferreira, presidente-executivo da associação. Segundo ele, as tarifas aplicadas a calçados brasileiros nos EUA variam de 0% a 48%.

Já para o economista-chefe da G5 Companions, Luis Otávio de Souza Leal, o Brasil pode se tornar mais competitivo por ter recebido a menor taxa dessa tabela americana. Segundo ele, a primeira impressão após o anúncio do Trump é que a medida foi mais suave do que se esperava. “Acredito que por terem superávit na balança comercial, eles [EUA] pegaram mais leve com o Brasil”, afirma.

O correspondente do Valor em Genebra, Assis Moreira, escreve em sua coluna no jornal que, se o governo Lula aproveitar a oportunidade para também “aliviar” nas tarifas de importação no Brasil, que é um mercado relativamente fechado, poderá conseguir ao mesmo tempo vários impactos positivos.

Ele escreve que o primeiro benefício seria a ajuda no combate à inflação, além da melhora nas condições de negociação com os Estados Unidos para derrubar ou atenuar a tarifa de 10% adicional sobre suas exportações anunciadas ontem. “Tarifas de importação mais brandas poderiam também prevenir novos ataques a produtos brasileiros. Por exemplo, o governo americano abriu investigação sobre os efeitos das importações de madeira e produtos derivados para a segurança nacional. Isso traz ameaça direta de sobretaxa para o Brasil, o quinto maior exportador desses bens para os EUA”, escreve Moreira.

Retaliações sob cuidado

Nos bastidores, integrantes do governo brasileiro passaram a defender que o país responda rapidamente com medidas retaliatórias antes de negociar com Washington, apesar de verem “vantagem comparativa” em relação a outros parceiros comerciais dos americanos.

No entanto, para o professor de Economia da Universidade de Columbia José Scheinkman, o Brasil deve calcular com cuidado eventual medida de retaliação, pelo risco de se expor a medidas mais duras por parte do governo americano.

“Qualquer país que retaliar os EUA tem de estar preparado para sofrer aumentos nas tarifas que o Trump anunciou inicialmente. É um jogo complicado. O que acontecerá com o Brasil se decidir retaliar essa taxa de 10% e Trump mudar essa taxa para 25% ou para 30%?”, questiona

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já anunciou que a União Europeia, taxada em 20%, está pronta para retaliar as tarifas de Trump. “Estamos finalizando um primeiro pacote de contra-medidas em respostas às tarifas sobre o aço”, disse ela, já na quarta-feira.

A China, taxada em 34%, além dos 20% que Trump já havia imposto sobre produtos do país, também disse que irá retaliar.

 — Foto: Mark Schiefelbein/AP Photo
— Foto: Mark Schiefelbein/AP Picture

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