Com a descoberta do primeiro foco de gripe aviária em uma granja no sul do Brasil, os primeiros efeitos econômicos envolvem o acúmulo de estoques, com a suspensão das exportações, o que pode gerar queda futura no preço do frango no Brasil, avalia o economista e sócio da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros.
O setor avícola brasileiro entrou em estado de alerta após o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmar a presença do vírus influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP), conhecido como gripe aviária, em uma granja de Montenegro, no Rio Grande do Sul, na última sexta (16).
O Brasil ainda não havia registrado a presença do vírus em aviários. Os casos no país, até o momento, segundo o Ministério da Agricultura, haviam sido em aves silvestres e criações de subsistência, todos a partir de 2023.
“Aqui, como em outros lugares do mundo, todo ano chegam milhares de aves migratórias, muitas das quais com o vírus. Durante três anos, nós fomos o único país cuja produção não sofreu interrupção por conta disso. Seguramente, o aumento da nossa importância e participação no mercado international de aves tem a ver com isso”, diz Mendonça de Barros, que foi também secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
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O anúncio da doença contagiosa no estabelecimento comercial com mais de 17 mil aves matrizes causou o isolamento da área para dar início ao protocolo sanitário e a declaração de estado de emergência zoossanitária no município gaúcho por 60 dias.
Apesar disso, o economista ressalta que, como a cadeia de produção brasileira é racionalmente concentrada em grandes empresas e cooperativas, os impactos econômicos não devem ser tão relevantes no curto prazo, desde que novos focos não apareçam. “Dá tempo de recuperar tudo o que deixou de ser exportado ao longo do resto do ano, nós estamos em maio ainda”.
“Como o consumo não é afetado, você tem o remanejamento dos fluxos de exportação, e o Rio Grande do Sul é um exportador razoável, mas não é o coração do sistema de exportação”, diz. “Tem uma descontinuidade temporária, mas o custo não não vai ser tão grande”, explica.
De acordo com dados de 2024 da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Rio Grande do Sul concentra 11,5% dos abates de frango, ficando atrás do Paraná (39,3%) e de Santa Catarina (13,9%). Na visão do ex-secretário, os produtores paranaenses e catarinenses devem absorver a demanda que period atendida pela produção gaúcha enquanto vigorar a paralisação.
Além das medidas tomadas pelas autoridades brasileiras, Argentina, China, União Europeia, México, Chile e Uruguai decidiram suspender as importações do Brasil. Nesse sentido, o montante que não vai ser exportado deve ser destinado ao mercado interno, o que, na visão de Mendonça de Barros, pode causar uma queda no preço do frango.
“Por mais rápido que seja e por menor que seja o acúmulo de estoques, vai ter uma oferta que vai entrar no mercado interno e que não estava programada para entrar. Em princípio, o consumidor vai ser beneficiado por uma queda que deve aparecer nos preços rapidamente. Esse ciclo é muito rápido e, talvez, durante dois meses a gente vai ver isso”, diz.
Para o economista, ainda é cedo para dizer por quanto tempo as suspensões vão se manter, mas o primeiro passo é fazer com que os países limitem o embargo apenas ao Rio Grande do Sul, para que o resto da produção nacional não seja tão afetada. Hoje, o Estado corresponde a 13,4% das exportações.
“Os países, principalmente a China, começam a liberar cautelosamente em um mês ou dois meses o fluxo de exportações. Isso vai ser chave. Se o bloqueio de exportações ficar por muito tempo, vai ter um um resultado no alojamento do emprego, porque o ciclo desses alojamentos é muito muito rápido, de 40 a 60 dias”, afirma.
Ainda assim, Mendonça de Barros pondera que é cedo para avaliar o actual impacto nos empregos. Hoje, o setor emprega cerca de 213 mil trabalhadores da porteira para dentro, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O fato do Brasil estar no início de uma boa safra de grãos também ajuda neste cenário, na visão do economista, por um momento favorável no preço da ração das aves, o que favorece a reorganização das exportações a nível nacional. “O maior custo da produção de aves, que é a ração, não está num momento de pressão e elevação de custos. Ao contrário, é um bom momento do ponto de vista das margens na produção avícola”.
O economista relembra os dois casos de vaca louca registrados no Brasil em 2021, em Minas Gerais e no Mato Grosso, como exemplos em que o país conseguiu se recuperar sem grandes problemas. “Teve um bloqueio temporário das exportações e, à medida que os exames mostraram que period um caso excepcional, tudo voltou lentamente à normalidade. Hoje, ninguém lembra desses casos”.